Os idosos viajantes estão ganhando cada vez mais espaço e atenção no mercado de turismo. Prova disso é o aumento do número de agências de turismo para idosos.
Este artigo foi escrito por Isabela Feitosa de Carvalho. Publicado originalmente no site Portal do Envelhecimento.
A população idosa aumenta de modo considerável em todo mundo. No Brasil o número de velhos aumentou em mais de 6 milhões se considerarmos as projeções de 2000 para 2010. Em 2040 o país pode se tornar o 6° no número de habitantes com mais de 60 anos e terá proporcionalmente o mesmo número de idosos do que países mais antigos, como o Japão. Diante disso é imprescindível que as políticas públicas estejam cada vez mais relacionadas ao desenvolvimento de bons recursos para essa população. Recursos esses que devem atender as necessidades biopsicossociais dessa faixa etária, como habitação adaptada, saúde, alimentação adequada, recursos econômicos, transporte, segurança, e atividades menos notadas na sociedade, como o lazer, a cultura, turismo e as atividades de ócio.
O envelhecimento acontece de maneira diversa para cada pessoa. Devido a isso, quando se discute sobre a população idosa, é importante considerar os fatores envolvidos nos perfis dessa faixa etária. Devemos observar idade, gênero, origens étnicas e culturais, área de residência, condição social e econômica, nível de escolaridade e modo de vida. A velhice pode ser vista e vivida de inúmeras maneiras, porém ainda não é usual que o idoso possa investir seus anos em atividades que antigamente não eram próprias dessa faixa etária. O turismo, principalmente relacionado as viagens solo, ainda é visto como uma ação restrita para uma pequena parcela de idosos. Podemos considerar para além dos fatores sociais, econômicos e culturais que afetam esse conceito, que a imagem da velhice que acontece dentro de casa, nas aulas de hidroginástica e casas de repouso ainda é bastante presente na sociedade. Apesar desse cenário persistente, existem campos e atuações que cada vez mais trazem mudanças para essa realidade.
Ações como a gratuidade de transportes públicos intermunicipais, incentivos em agências de viagens e hotéis com valores reduzidos para maiores de 60 anos aumentam o interesse da população dessa faixa etária. Essas melhorias transmitem segurança aos idosos que até pouco tempo não podiam realizar essas viagens. Além disso, as hospedagens, restaurantes e atrações turísticas têm desenvolvido infraestrutura adaptada justamente para o conforto dos idosos. Esses novos ambientes podem incluir melhorias como cômodos mais amplos, confortáveis e práticos, elevadores, pisos antiderrapantes, vagas de estacionamento ou transporte próprio. As equipes desses locais estão se tornando cada vez mais especializadas na prestação de serviços para idosos. Seria uma maneira de respeitar as mudanças corporais e funcionais que o envelhecimento pode acarretar, porém sem desconsiderar a possibilidade do idoso manter, ou até mesmo iniciar, seu roteiro de viagens.
Os viajantes com mais de 60 anos estão ganhando cada vez mais espaço e atenção nesse mercado. Prova desse fato é o aumento do número de agências de turismo para idosos. As excursões são realizadas para esse público com o objetivo de atender todas as demandas necessárias e proporcionar companhia uns para os outros, pois muitos idosos acabam passando grande parte do tempo sozinhos e essas viagens podem se tornar ótimos ambientes para fortalecimento de laços de amizades. Porém é importante destacar que nem todos os idosos querem viajar em excursões ou acompanhados. Muitos deles optam por viagens solo, mas necessitam da segurança e confiabilidade que essas agências propõem, e que muitas vezes não conseguem realizar sozinhos.
Pensando nos turistas com mais de 60 anos e em como esse movimento tem impacto no mercado turístico e dinâmicas das cidades que os recebem, o Ministério do Turismo criou uma cartilha denominada “Dicas para atender bem turistas idosos” com o objetivo de melhorar a recepção desses viajantes e também quebrar certos mitos e padrões sobre o envelhecimento e o velho que viaja. É mais uma prova que a tradicional velhice está em transição e seus velhos estão em busca de outras realizações e novas aventuras nessa fase de vida. Como exemplo dessa velhice possível cito o casal de idosos sorocabanos que viajou 362 dias com roteiro de Sorocaba até o Alasca. É importante considerar os recursos financeiros e físicos nesse contexto, porém esses relatos nos mostram como a possibilidade da viagem para essa faixa etária é presente.
Outro ponto importante quando discutimos as vantagens e os desafios encontrados pelos idosos viajantes é a arquitetura e infraestrutura das cidades que os recebem. Elas estão bem preparadas para essa faixa etária? As cidades acolhem de maneira digna seus próprios idosos? Pensando nisso, é importante discutir como essas cidades podem se tornar mais amigáveis para esses turistas e seus residentes sexagenários.
Devemos considerar o contexto histórico e atual das cidades, pois em sua grande maioria não foram planejadas para o envelhecimento, mesmo com as adaptações que algumas cidades brasileiras recebem ainda se torna necessária a atenção para essas mudanças. A estrutura das cidades, principalmente nos grandes centros urbanos, não é acolhedora para seus velhos e suas demandas. Poucas cidades estão preparadas para o envelhecimento, porém as adaptações são notáveis para toda população. Como exemplo, podemos citar o tempo dos semáforos nas travessias da ruas, quantidade e modelos de escadas e rampas, sinais e placas com maior visibilidade e postos de informações para qualquer necessidade. Essas adaptações tornam as cidades mais acolhedoras e mais acessíveis. A acessibilidade é um direito universal (não apenas da pessoa idosa ou pessoa com deficiência) e deve ser considerada em qualquer destino ou empreendimento turístico. Fornece resultados sociais positivos e, assim, contribui para o desenvolvimento inclusivo da cidade. Sua implementação é fundamental, dependendo, porém, de mudanças de cultura e atitudes.
Os idosos podem apresentar dificuldade de locomoção, devido a redução da mobilidade, flexibilidade, coordenação motora ou percepção, e devido a isso a acessibilidade é uma característica importante do ambiente para garantir a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Deve estar presente nos espaços, no meio físico, no transporte, na informação e na comunicação.
No contexto de cidades adaptadas e amigáveis com os idosos, principalmente os viajantes, podemos destacar o termo “caminhabilidade”. Esse termo é definido como o princípio fundamental das boas cidades, e se tornou um dos meios para a discussão das cidades acolhedoras para todas as faixas etárias. Caminhabilidade é a qualidade do caminhar, e devido a isso possui profunda relação com a acessibilidade da cidade para qualquer pessoa e faixa etária. O idoso viajante que apresenta mobilidade restrita se torna dependente dos recursos e condições ofertadas nas cidades que escolhe para o turismo.
É esperado que com o aumento do turismo para idosos as cidades otimizem seus espaços e recebam melhor os velhos que por ali passarem. São exemplos de algumas cidades brasileiras amigáveis com os idosos: Holambra-SP, Gramado-RS, Vinhedo-SP, Caldas Novas-GO, e entre as capitais, Curitiba-PR, devido a quantidade de museus e opções gastronômicas. Em menor escala as viagens internacionais também podem ser parte do roteiro desse idoso. Os lugares mais indicados são Tunísia, Toscana, Québec, Sintra e Montevidéu.
Apesar dos desafios e questões envolvendo as viagens dessa população, é muito importante considerarmos que os idosos que escolhem e podem viver essa experiência estão quebrando padrões e imagens sobre o envelhecimento. Todos têm o direito de eleger o estilo de vida, em qualquer etapa. Essas viagens podem significar mais do que conhecer a cultura de outra cidade. Em muitos casos está relacionada com a realização de sonhos e vontades que não foram realizados nos tempos mais jovens. Para muitos olhos, pode ser um ato de resistência a imagem de velhos que devem passar seus dias sentados, tricotando, com olhos vidrados na TV, no conforto e segurança do seu próprio lugar, sua casa, e preferem continuar vivenciando outros lugares, com outros olhares, o olhar da possibilidade.
Referências
BRASIL. Ministério do Turismo. Dicas para atender bem turistas idosos. Brasília, DF, 2016. Disponível em: <www.turismo.gov.br/images/pdf/27_09_2016_cartilha_idoso.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2018.
GEHL, Jan. Cidades para pessoas. Tradução Anita Di Marco. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Indicadores sociais municipais: uma análise dos resultados do universo Censo Demográfico 2014. Rio de Janeiro: IBGE; 2015.
LIMA, Maria do C. C. de; PERRACINI, Monica R. Caminhabilidade e envelhecimento. In: BESTETTI, Maria L. T.; GRAEFF, Bibiana (Org.). Habitação e cidade para o envelhecimento digno. São Paulo: Portal, 2017. p. 43-58.
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SHIMOSAKAI, Ricardo. Cresce mercado de turismo adaptado para todos. 2016. Disponível em: <https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/cresce-mercado-de-turismo-adaptado-para-todos/>. Acesso em: 15 jun. 2018.
VIDA, Cida. Casal de idosos viaja durante 326 dias de Sorocaba ao Alasca. Jornal Cruzeiro do Sul, Sorocaba, 14 maio 2018. Disponível em: <https://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/885451/casal-de-idosos-viaja-durante-326-dias-de-sorocaba-ao-alasca>. Acesso em: 15 jun. 2018.
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