A paulista centenária compartilha atitudes que explicam sua longevidade.
Ninguém diz que ela tem 100 anos. Miúda, lúcida e falante, dona Maria Amorimmantém os cabelos cheios e bem pintados, “para tapear todo mundo”, como ela diz. “Meu médico fala que eu pareço ter 80”, conta ela, com a voz enérgica e os olhos vivos sob os óculos vermelhos. Dia desses, quando uma amiga perguntou a quantas andava sua saúde, ela respondeu aos risos: “Estou requebrando ainda”.
É verdade que dona Maria adorava dançar na juventude, e sempre se exercitou, somando anos de prática de ioga e caminhadas. Há apenas oito anos, aos 92, decidiu que era hora de entrar em uma academia.
Contadora aposentada, solteira, ela cumpre uma rotina diária de exercícios na academia a poucos passos do apartamento onde ainda mora sozinha (contando com uma ajudante durante o dia), no bairro de Higienópolis, em São Paulo.
Três vezes por semana, dona Maria faz hidroginástica. Nos outros dois dias, se reveza entre esteira, bicicleta e musculação. “Sem isso eu não estaria nem andando!”, diz, bem-humorada.
A aluna é tão exemplar que, no aniversário de 100 anos, ao sair da piscina, ganhou bolo, homenagem, e um plano vitalício de presente da academia. “Quase morri do coração!”, diz.
Com o dinheiro que sobra dessa despesa, pretende ajudar uma das irmãs. “Ela passou a vida cuidando de todo mundo”, atesta a sobrinha Maria Angela Paschoal. Sobre o segredo da longevidade da tia, um palpite. “Ela não se deixa abalar. Outro dia, diante de um problema, disse: ‘Primeiro vou à hidroginástica’. Ela fica bem com ela mesma, para depois resolver'”, revela Maria Angela.
Dona Maria nasceu em 15 de novembro de 1917, em Guará, interior de São Paulo. Achou graça da proposta de voltar no tempo em busca de dicas de longevidade. “100 anos não é brincadeira, né?“, ela se diverte. Mas logo se envolveu na conversa, pediu um café espresso e deu algumas pistas:
1. Adoce a vida
“Nunca fui de comer muito. Hoje, não como mais o que gosto, mas o que posso: arroz e feijão, legumes e frutas. À noite, nada forte. Apenas uma bolachinha de maizena e uma xícara de chá. Mas adoro doces! O médico falou para maneirar, mas se eu não comer um docinho depois do almoço, me desespero. Pode ser gelatina, pudim, o que tiver. Para as emergências, levo um drops na bolsa.”
2. Mexa-se!
“A vida inteira gostei de atividade física. Fazia caminhadas, praticava ioga e adorava dançar. Com a turma do trabalho, no interior de São Paulo, a gente contratava sanfoneiros para os bailes. No navio, quando viajei para a Europa, dancei muito! Era um espetáculo! Brinco que estou requebrando ainda… Há oito anos, comecei na academia. Além de hidroginástica, faço esteira, bicicleta e musculação com pesinhos de 1kg. Isso tudo ajuda a segurar o abdome, a bexiga, e melhorar a postura. Se não fosse a academia, eu não estava nem andando!”
3. Aprenda algo novo sempre
“Depois de aposentada aprendi pintura em porcelana e pintura a óleo. Ia para Minas Gerais, visitar meus sobrinhos, e passava um mês frequentando os ateliês. Antes, fiz tricô e corte e costura. Não fico com a cabeça desocupada. Me aposentei em 1972. Imagine, há 42 anos. Não morro nunca! (risos)”
4. Tenha fé
“Tenho muita fé! Rezo todos os dias e alcanço graças maravilhosas. Há pouco tempo, não conseguia dormir. Deitava e ficava uma briga na minha cabeça. Vinham pensamentos de quando eu era criança, misturados com problemas de hoje. Até que, aprendi uma oração que limpou minha mente. Tinha uma dor na coluna que nem médico dava jeito, melhorei. É tão bom a gente acreditar, rezar e ser atendida!”
5. Cultive bons pensamentos
“Acordo às 6h. Leio o jornal de manhã, senão não durmo por causa das más notícias. Não escuto bem a TV. Apenas vejo a missa e dou uma olhadinha nos jogos de vôlei. Livros, só dou conta de ler os religiosos. Faço palavras cruzadas o dia inteirinho. Mas as fáceis! Não fico quebrando a cabeça.”
6. Viaje o máximo que puder
“Só não conheci o Japão. O resto eu vi tudo: Estados Unidos, Canadá, Oriente Médio, Terra Santa. Viajei pela Europa seis meses seguidos, com meu ordenado. Dinheiro com viagem é bem gasto. Depois de não ter me casado, o que mais fiz na vida, por gostar, foi viajar.”
7. Doe-se pelos outros
“Quando meu pai morreu, eu era a mais velha. Cuidei da minha mãe, formei e casei minhas irmãs e uma sobrinha. Não pude me casar! Tive juízo e não me arrependo. Engraçado, todo mundo gosta de mim! Não sei o que tenho, admiro as pessoas me tratarem tão bem. Na véspera do meu aniversário de 100 anos, a síndica do meu prédio interfonou e pediu para eu ir à casa dela. Tinha uma mesa com bolo e uma porção de gente. Na academia, tem um senhor que conheci na esteira. Ele disse que faria uma homenagem para mim. Dias antes, marcou a data no salão de festas do edifício Bretagne, um prédio tombado em Higienópolis. Achei que seria coisinha pouca. Chegando lá, tinha 120 pessoas, meus parentes, todo mundo da academia! No dia seguinte, mais bolo, discurso e homenagem depois da aula de hidro. Puseram uma placa enorme, a turma saiu da piscina enrolada na toalha para cantar parabéns. Eu tremia tanto que o gerente teve que me segurar! Ainda vieram meus sobrinhos, de todas as partes do Brasil, para um almoço. Quase morri! Fazer 100 anos não é brincadeira, né? Viajei muito, dancei muito, ajudei minha família até onde pude. Não estou falando para ninguém fazer igual, mas minha vida foi assim.”
Agradecimento: Academia Competition Higienópolis.
Este artigo foi publicado originalmente em HuffPost Brasil.
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